Em meio à escalada de tensão comercial entre Brasil e Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou o tom neste sábado (27), durante agenda oficial em Salvador. Em seu discurso, Lula criticou duramente a postura do governo norte-americano, liderado por Donald Trump, após o anúncio do aumento de 50% nas tarifas sobre produtos brasileiros. O presidente afirmou que os EUA “se recusam a dialogar” — nem mesmo com o vice-presidente Geraldo Alckmin, que esteve em missão diplomática no país.
“O Brasil sempre esteve aberto ao diálogo. O problema é que o governo dos Estados Unidos não quer conversar. Nem o vice-presidente Geraldo Alckmin foi recebido em Washington como deveria. Isso é uma afronta à diplomacia e à democracia”, declarou Lula.

A declaração é a mais incisiva até agora por parte do chefe do Executivo brasileiro, que desde o início da crise tem adotado tom de firmeza, mas evitado romper completamente com a diplomacia.
Segundo Lula, o envio de Alckmin aos EUA, há cerca de duas semanas, teve como objetivo buscar entendimento e apresentar propostas de cooperação econômica para evitar o chamado “tarifaço”. No entanto, de acordo com o presidente, o vice foi recebido com descaso por autoridades americanas.
“O Alckmin é um homem de diálogo, de construção. Mas foi ignorado. Isso mostra que não se trata de uma questão técnica, e sim política. O que Trump quer é chantagem, e o Brasil não se ajoelha para chantagem de ninguém”, reforçou.
Reação estratégica e recado à OMC
Lula confirmou que o governo brasileiro ingressou com uma ação formal na Organização Mundial do Comércio (OMC) e que medidas de reciprocidade econômica estão prontas para serem implementadas, caso os EUA mantenham a taxação.
“Já protocolamos nossa defesa junto à OMC e, se necessário, vamos responder na mesma moeda. Temos leis, temos soberania e temos responsabilidade com nosso povo. O que não temos é medo”, afirmou o presidente.
Fontes do Itamaraty indicam que o Brasil estuda restrições comerciais a produtos agrícolas norte-americanos e suspensão de acordos bilaterais, caso não haja recuo por parte da Casa Branca.
Impacto econômico e ambiente político
O tarifaço de Trump é visto como uma retaliação velada ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil, apontado por Trump como vítima de uma “perseguição política”. A medida gerou reações dentro e fora do país. Empresários do setor de exportação demonstram preocupação, e aliados do governo americano vêm pressionando pela reabertura do canal diplomático.
No entanto, Lula foi categórico ao dizer que não aceitará pressões externas movidas por “interesses ideológicos”.
“Se quiserem negociar, nós negociamos. Mas com respeito mútuo. O Brasil é um país soberano, e não será governado por tweet de ex-reality show”, ironizou, em clara alusão ao estilo midiático do ex-presidente norte-americano.
O que vem pela frente?
Apesar da crise, o governo brasileiro não encerrou os canais formais de diálogo e aguarda resposta oficial dos EUA à nota diplomática enviada no dia 16 de julho. Internamente, o Planalto tem articulado apoio de blocos como o BRICS e a União Africana, para formar uma frente contra políticas comerciais unilaterais.