Representantes do governo e do setor de apostas esportivas alertaram nesta quarta-feira (27) que a proibição de apostas em lances específicos de jogos — como cartões, escanteios e faltas — pode ter o efeito contrário ao esperado e aumentar a migração de apostadores para o mercado ilegal. A proposta está no Projeto de Lei 2842/23, debatido pela Subcomissão Permanente de Regulação de Apostas Esportivas, vinculada à Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados.
Leticia Soeiro, coordenadora de Jogo Responsável da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), afirmou que a medida pode reduzir riscos de manipulação, mas também comprometer o interesse pelo mercado regulado. “O que fazemos como reguladores é reduzir riscos, exigindo políticas de prevenção contra manipulações e vínculos com entidades independentes de monitoramento da integridade esportiva”, ressaltou.
O diretor-executivo da Liga Forte União do Futebol Brasileiro, Gabriel Lima, citou estudos internacionais que demonstram como restrições severas empurram apostadores para sites clandestinos. Ele também destacou que quase 100% dos clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro dependem financeiramente dos contratos de patrocínio com casas de apostas.
O presidente da Associação de Bets e Fantasy Sport (aBFS), Rafael Marcondes, reforçou que a maior parte dos casos de manipulação está ligada ao mercado principal de resultados, e não aos lances individuais. “Mesmo que o Brasil proíba essas apostas, elas continuarão ocorrendo em sites internacionais”, afirmou.

Mercado ilegal concentra até 80% das apostas
Tiago Barbosa, representante da Genius Sports, chamou atenção para o cenário atual: entre 70% e 80% das apostas no Brasil ocorrem em mercados ilegais. Segundo ele, qualquer restrição no setor regulado impactaria apenas 20% a 30% do total.
Diante desse quadro, o secretário nacional do Ministério do Esporte, Giovanni Rocco Neto, defendeu que o combate seja direcionado às casas clandestinas. “A questão das apostas não se resolve apertando um botãozinho. O caminho é tecnologia para bloquear e rastrear o dinheiro das casas ilegais, além da atuação da polícia, porque bandido se cuida com polícia”, concluiu.