A decisão da Câmara dos Deputados de barrar a proposta que aumentaria a taxação sobre lucros de bancos, grandes fortunas e empresas de apostas esportivas — as chamadas bets — gerou revolta e sensação de injustiça entre parte da população. Para muitos, a medida representa um verdadeiro “tapa na cara da sociedade”, num momento em que o trabalhador comum paga cada vez mais caro por tudo.
O projeto, que previa uma elevação na contribuição dessas instituições de alta lucratividade, tinha como objetivo aumentar a arrecadação para investimentos sociais e compensar perdas fiscais. No entanto, a pressão de setores econômicos e bancários acabou prevalecendo.
Enquanto isso, o cidadão comum segue arcando com altos impostos em produtos básicos, energia, combustível e serviços, sem ver retorno na melhoria dos serviços públicos. A decisão reforça uma velha percepção: no Brasil, quem tem mais poder político e econômico continua sendo protegido, enquanto a classe média e os mais pobres seguem pagando a conta.

A Câmara dos Deputados aprovou requerimento da oposição e retirou de pauta a Medida Provisória 1303/25, que unifica em 18% a tributação sobre todas as aplicações financeiras a partir de 1º de janeiro de 2026 e aumenta a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) de algumas instituições financeiras. Foram 251 votos a favor da retirada e 193 contra.
Como a MP perde a vigência à meia-noite de hoje, não haverá tempo para análise em outra sessão. Se passasse pela Câmara, a medida também precisaria ser votada hoje pelo Senado.
Considerada pelo governo essencial para o equilíbrio fiscal do próximo ano, a MP foi publicada em junho após a revogação do decreto presidencial que havia elevado o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em diversas transações. O Supremo Tribunal Federal (STF), no entanto, permitiu que a maior parte dos aumentos previstos no decreto fossem mantidos.
Governo X oposição
Para o líder do PT, deputado Lindbergh Farias (RJ), a articulação da oposição para a derrota da MP é uma antecipação do calendário eleitoral de 2026. “Não pensam que os senhores estão ganhando, estão ficando de costas para o povo brasileiro”, criticou.
Essa opinião foi reforçada pelo deputado Helder Salomão (PT-ES). “Vocês querem inviabilizar o governo Lula? Vocês estão atuando contra as famílias brasileiras”, declarou.
O líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), afirmou que o relatório de Zarattini era uma construção coletiva de todos os líderes partidários, e não uma produção só dele. “Estamos cobrando daquela parte do sistema econômico que não quer pagar, que sonega e está na ilegalidade”, disse.
Já o deputado Mendonça Filho (União-PE) afirmou que a MP foi criada para substituir o aumento do IOF, que tinha sido derrubado pelo Congresso, mas foi retomado depois de decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. “O IOF arrecada hoje algo como R$ 30 bilhões por ano. O objetivo de arrecadar mais já está sendo alcançado. Mas o governo não sossega”, declarou.
A rejeição da proposta também ocorre em um momento de expansão das casas de aposta, que movimentam bilhões de reais anualmente, muitas vezes com baixa fiscalização. Já os bancos continuam registrando lucros recordes, mesmo em períodos de crise econômica.
No fim das contas, a decisão expõe o abismo entre o poder financeiro e o cidadão comum — e levanta uma pergunta incômoda: até quando o povo vai aceitar pagar mais enquanto os gigantes da economia continuam blindados?
Fonte: Agência Câmara de Notícias