O Congresso Nacional vive dias de intensos debates em torno de uma possível anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. No centro da polêmica está a definição de qual formato a medida deve adotar: uma anistia ampla, geral e irrestrita, que beneficiaria também o ex-presidente Jair Bolsonaro, ou uma versão mais restrita, apelidada de “anistia light”, que excluiria lideranças políticas e concederia perdão apenas a manifestantes de menor envolvimento.
O que está em jogo
A proposta de anistia foi protocolada com apoio de parlamentares da base bolsonarista, que defendem o perdão total, incluindo a reversão de condenações e da inelegibilidade de Bolsonaro, hoje impedido de disputar eleições até 2030. “Não nos interessa redução de pena, mas sim anistia ampla, geral e irrestrita”, tem repetido o ex-presidente em encontros com aliados.
Do outro lado, lideranças do Centrão e parte do Senado articulam uma alternativa mais branda, que preservaria condenações de figuras centrais do movimento, como Bolsonaro, e reduziria apenas as punições de manifestantes que participaram dos atos sem exercer papel de liderança.
Resistência no governo e no STF
O Palácio do Planalto e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) enxergam com preocupação a possibilidade de uma anistia irrestrita. Juristas alertam que tal medida poderia representar um “mau exemplo institucional” e abrir precedente para novos ataques à democracia. Além disso, há dúvidas sobre a constitucionalidade do perdão a crimes já julgados pelo Supremo.
Mesmo se aprovado pelo Congresso, o projeto dificilmente escaparia de uma judicialização, o que poderia prolongar o impasse por meses.
Ambiente político dividido
O PL, partido de Bolsonaro, insiste em não aceitar “meias medidas”. Deputados ligados ao ex-presidente pressionam pela aprovação de um texto que garanta a ele todos os benefícios da anistia. Já lideranças do Senado, como Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), defendem uma proposta mais restrita, excluindo o ex-presidente e mantendo sua inelegibilidade.
O ambiente é de forte divisão. Parte dos parlamentares teme o desgaste de aprovar uma anistia ampla diante da opinião pública, enquanto outros enxergam na proposta uma chance de pacificação política.
Próximos passos
O pedido de urgência para a tramitação do projeto já conta com assinaturas suficientes para avançar, mas a falta de consenso ameaça travar a votação. Enquanto isso, Bolsonaro e aliados intensificam a pressão para que a medida seja votada ainda este ano.

Entre anistia ampla ou versão “light”, o Congresso caminha para um embate que pode definir não apenas o futuro político de Jair Bolsonaro, mas também os limites institucionais da democracia brasileira.