Na tarde desta quinta-feira (14), o Corinthians divulgou nota oficial acusando o Esporte Clube Bahia de agir de forma antiética na tentativa de contratação do jovem atacante Kauê Furquim. No entanto, a fala do clube paulista ocorre em meio a um cenário interno delicado, marcado por dívidas milionárias, cobranças públicas e recentes punições da FIFA.
Caso Raniele: cobrança pública e risco de punição
Em janeiro de 2024, o Corinthians fechou a contratação do volante Raniele junto ao Cuiabá por R$ 18,5 milhões, com promessa de pagamento à vista. O compromisso não foi cumprido, e uma renegociação estabeleceu parcelas trimestrais — igualmente não honradas.
O atraso levou o Cuiabá a expor o caso nas redes sociais em julho deste ano, com uma contagem regressiva irônica publicada no X (antigo Twitter):
“Faltam 3 horas e 54 minutos para o fim do dia 17 de julho e até agora NADA. Estamos aguardando… Já faz mais de 365 dias que estamos aguardando!!!”
O presidente do Dourado, Cristiano Dresch, chegou a pedir publicamente que outros clubes evitassem negociar com o Timão:
“O apelo que eu faço é que, hoje, não negociem com o Corinthians. A decisão que tomamos conhecimento […] causa muita indignação, pois esperávamos que a CNRD agisse com neutralidade, e o que vemos é justamente o contrário.”
Dias depois, o Corinthians efetuou a primeira parcela e evitou momentaneamente um transfer ban — punição que impede a inscrição de novos jogadores até que pendências financeiras sejam resolvidas.
O que é transfer ban
De acordo com a FIFA, o transfer ban funciona como uma espécie de “SPC do futebol”, bloqueando o registro de atletas até que dívidas e infrações sejam quitadas. Assim que o clube regulariza a situação, a sanção é suspensa.
Dívida com o Santos Laguna e nova punição da FIFA
Mesmo com a resolução parcial do caso Raniele, o Corinthians voltou a enfrentar problemas. Em 2024, o Santos Laguna, do México, acionou a FIFA por falta de pagamento na compra do zagueiro Félix Torres, contratado por R$ 38 milhões. Apenas a primeira parcela foi paga.

Além disso, a entidade incluiu no mesmo processo valores devidos ao Talleres, da Argentina, pela contratação do meia Rodrigo Garro. Em fevereiro de 2025, a FIFA condenou o Corinthians a pagar R$ 55 milhões pelas pendências combinadas.
Sem acordo e com o prazo vencido, o Timão foi novamente punido com transfer ban na última terça-feira (12), ficando impedido de registrar novos jogadores.
Mais pendências: Rojas e Shakhtar Donetsk
O clube ainda precisa resolver questões com o paraguaio Matías Rojas, que acionou a Justiça por salários atrasados, e com o Shakhtar Donetsk, que cobra R$ 6,3 milhões pelo não pagamento de parcelas referentes ao empréstimo do volante Maycon nos meses de dezembro de 2022 e 2023.
Cobrança de ética em meio a crise financeira
O episódio envolvendo o Bahia e Kauê Furquim reacende um debate sobre coerência na gestão do Corinthians. Embora tenha acusado o adversário de conduta antiética, o clube alvinegro enfrenta uma sucessão de episódios em que não cumpriu compromissos financeiros, resultando em sanções severas e perda de credibilidade no mercado.
Com a restrição da FIFA em vigor e múltiplas dívidas a quitar, a pressão sobre a diretoria aumenta — e a cobrança por ética parece, no mínimo, contraditória.