O deputado federal Luciano Bivar (PE), ex-presidente do União Brasil, desencadeou uma das mais graves crises internas desde a fundação da sigla. Em declarações públicas e no livro recém-lançado “Democracia acima de tudo”, Bivar acusa o secretário-geral do partido, ACM Neto, de arquitetar sua saída da presidência para colocar o atual dirigente nacional, Antonio Rueda, no comando.
Segundo Bivar, a manobra teria se intensificado durante uma disputa pelo diretório estadual do Amazonas. Insatisfeito com o resultado, Rueda teria sugerido anular a eleição — proposta recusada por Bivar — e, em seguida, recebido de ACM Neto a promessa de assumir a presidência caso se alinhasse ao grupo rival: “Olha, Rueda, se você vier para o nosso lado, a gente faz você presidente”, relatou.
Acusações de corrupção e “quadrilha familiar”
O parlamentar também apresentou denúncias graves contra Rueda, alegando que ele teria comandado um esquema de venda de diretórios estaduais e municipais em troca de propinas. Segundo Bivar, negociações teriam ocorrido em hotéis de luxo, como o George V, em São Paulo, e em um apartamento alugado na cidade para “receber encomendas” — termo que, segundo ele, encobriria pagamentos ilícitos.
Bivar afirma que Rueda teria criado uma “quadrilha familiar” no comando da legenda, colocando parentes e aliados em postos estratégicos, incluindo a própria irmã como tesoureira nacional. Em entrevistas, ele questionou a origem do patrimônio do presidente do União Brasil, mencionando viagens e eventos de alto custo incompatíveis com a remuneração de um dirigente partidário.

Conexões com o ‘Rei do Lixo’
A crise ganhou contornos mais amplos quando Bivar, em declarações à CNN Brasil, apontou supostas ligações da cúpula do partido com Marcos Moura, empresário apelidado de “Rei do Lixo” por sua atuação no setor de coleta urbana. Ele acusa Moura de ser um “laranja bem remunerado” indicado por ACM Neto, insinuando que contratos milionários com prefeituras teriam relação com o financiamento político interno.
Resposta de Rueda e tensão nos bastidores
Em nota oficial, Rueda classificou as declarações como “delírios e calúnias”, afirmando que Bivar estaria “politicamente irrelevante” após derrota eleitoral e afastamentos judiciais. O dirigente acusou o ex-aliado de ter ameaçado sua filha de 12 anos — acusação negada por Bivar.
Fontes próximas ao União Brasil confirmam que, nos bastidores, há discussões sobre um processo de expulsão de Bivar, o que acirraria ainda mais a disputa interna.
Impacto eleitoral e risco de fragmentação
A crise atinge o União Brasil em um momento estratégico: o partido detém uma das maiores bancadas no Congresso e será peça-chave nas negociações para 2026. Analistas políticos avaliam que um racha pode gerar debandada de parlamentares para siglas concorrentes, enfraquecendo a influência do partido em alianças estaduais e nacionais.
Fato inédito revelado pela apuração
Embora as denúncias concentrem-se nas relações internas e supostos esquemas, interlocutores no Congresso afirmam que há articulação de líderes de outros partidos para convencer Bivar a formalizar as denúncias no Conselho de Ética da Câmara, e não apenas no Ministério Público Eleitoral. Caso isso ocorra, o caso poderia gerar uma inédita investigação interna no Parlamento sobre compra e venda de diretórios partidários — um tema até hoje tratado de forma velada na política brasileira.
Essa possibilidade, segundo fontes ouvidas pela reportagem, já preocupa integrantes de pelo menos quatro legendas, que temem que um processo desse tipo abra precedentes para investigar práticas semelhantes em outras siglas.