
A falta de motoristas no setor de transporte rodoviário e urbano no Brasil não é apenas um problema de logística ou mobilidade — é, acima de tudo, um reflexo direto da desvalorização da categoria. Especialistas alertam que a carência crescente de profissionais qualificados ameaça não apenas o abastecimento de cargas, mas também a qualidade do transporte público nas grandes cidades.
Segundo dados da , o déficit de motoristas profissionais no país já ultrapassa dezenas de milhares de vagas, incluindo caminhoneiros e motoristas de ônibus. Essa escassez tem provocado atrasos em entregas e, no caso do transporte coletivo, redução de linhas, aumento de intervalos e sobrecarga de quem continua atuando.
Para o consultor de logística e transporte Rodrigo Santos, o problema não está na falta de interessados, mas na falta de atratividade da profissão. “Os motoristas — sejam de caminhão ou de ônibus — são peças fundamentais para manter o país funcionando. Mas enfrentam salários baixos, falta de valorização, longas jornadas e, muitas vezes, condições precárias de trabalho”, afirma.
No caso dos motoristas de ônibus, os desafios são ainda mais visíveis nas cidades. Além de enfrentar trânsito intenso e jornadas extensas, esses profissionais lidam diariamente com situações de insegurança e estresse. “Muitos motoristas relatam episódios de assaltos, agressões e falta de estrutura nos pontos finais. Isso afasta novos profissionais e aumenta o número de afastamentos por problemas de saúde física e mental”, completa Santos.
A formação também é outro obstáculo: o custo para obter e manter as habilitações exigidas, além de cursos obrigatórios, pesa no bolso de quem deseja ingressar na profissão. Ao mesmo tempo, os salários muitas vezes não compensam os sacrifícios pessoais e familiares, já que motoristas passam longos períodos longe de casa ou têm rotinas extremamente cansativas.
A falta de renovação da mão de obra agrava ainda mais o cenário. “Os jovens não querem mais viver nas estradas ou dentro de um ônibus por tantas horas e com tão pouca valorização. Enquanto a profissão não for dignificada, vamos continuar enfrentando um apagão de motoristas”, analisa o especialista.
Algumas empresas de transporte têm tentado reverter a situação com programas de capacitação, benefícios e melhores condições de trabalho. Porém, especialistas alertam que isso ainda é insuficiente.
“Não se trata apenas de contratar mais motoristas. É preciso reconhecer a importância estratégica dessa categoria. Sem caminhoneiros, o país para. Sem motoristas de ônibus, as cidades travam. Eles são a espinha dorsal da mobilidade e da logística nacional”, conclui Rodrigo Santos.
A solução, segundo ele, passa por políticas públicas mais firmes e uma mudança de postura do setor privado: salários compatíveis, segurança, infraestrutura adequada, jornada justa e respeito à profissão. Enquanto isso não acontecer, o Brasil continuará convivendo com um problema silencioso — e perigoso — que ameaça diretamente a economia e a mobilidade da população.