O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que as negociações com os Estados Unidos sobre o tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump exigem cautela, porque há um “limite de briga” e a diplomacia não permite que ele fale “o que acha que é possível, mas o que é necessário”. A declaração foi feita durante o 17º Encontro Nacional do PT, em Brasília. Sem citar diretamente o presidente dos EUA, Lula disse que a postura do Brasil em defesa da soberania assusta “pessoas que acham que mandam no mundo”:
– O governo tem que fazer aquilo que ele tem que fazer. Por exemplo, nessa briga que a gente está fazendo agora, com a taxação dos Estados Unidos, eu tenho um limite de briga com o governo americano. Eu não posso falar tudo que eu acho que eu devo falar, eu tenho que falar o que é possível falar, porque eu acho que nós temos que falar aquilo que é necessário”.
O presidente também voltou a falar sobre uma moeda alternativa ao dólar para negociar com outros países, proposta que gera insatisfação de Trump.
— Eu não vou abrir mão de achar que a gente precisa procurar construir uma moeda alternativa para que a gente possa negociar com os outros países. Eu não preciso ficar subordinado ao dólar.

Lula reconheceu que os EUA são uma superpotência, , mas afirmou que o Brasil não é “uma republiqueta” e criticou o uso político das tarifas:
– Nós queremos negociar igualdade de condições. Eles são um país muito grande, o mais bélico, com mais tecnologia, a maior economia. Tudo isso é muito importante. Mas queremos ser respeitados pelo nosso tamanho. Temos interesses econômicos, estratégicos, queremos crescer e não somos uma republiqueta. Querer colocar um assunto político para nos taxar economicamente é inaceitável — disse Lula.
O presidente brasileiro destacou que canais de diálogo estão abertos, e que as negociações seguem em curso. Na semana passada, o chanceler Mauro Vieira se encontrou com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, em uma primeira reunião entre os chefes da diplomacia dos dois países desde a posse de Trump, em janeiro deste ano. Trump se disse disposto a receber uma ligação de Lula, que afirmou estar aberto ao diálogo.
– As propostas estão na mesa, já foram apresentadas pelo ministro Alckmin e pelo ministro Mauro Vieira – disse o presidente brasileiro.
Lula reafirmou que não há temor no governo:
– Não queremos confusão. Quem quiser confusão conosco, pode saber que não queremos brigar. Agora, não pensem que nós temos medo. Não temos.
Segundo Lula, uma frase do cantor Chico Buarque tem nortado sua postura:
“Eu gosto do PT porque ele não fala fino com os Estados Unidos, e não fala grosso com a Bolívia. A gente fala em igualdade de condições com os dois. Essa que é a lógica da política”, destacou Lula.