Motoristas e cobradores de ônibus convivem todos os dias com o barulho constante do motor, dos freios, da cidade movimentada e das próprias vibrações da estrutura do veículo. Embora pareça parte natural da rotina, esse ruído contínuo pode trazer sérias consequências para a saúde auditiva desses profissionais.
Segundo especialistas em saúde ocupacional, a exposição diária a sons acima de 85 decibéis (dB) pode causar Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) — uma condição irreversível, progressiva e silenciosa.
O que acontece com a audição dos rodoviários?
A PAIR é a principal consequência da convivência prolongada com o ruído. Ela afeta ambos os ouvidos e vai se agravando com o tempo, sem causar dor ou sinais aparentes nos primeiros anos.
Além disso, outros sintomas podem surgir:
Zumbido no ouvido (tinnitus)
Fadiga auditiva, sensação de ouvido “cheio”
Dificuldade de escutar conversas, mesmo em locais silenciosos
Irritação, estresse e dificuldade de concentração
Com o tempo, essas alterações comprometem não apenas a saúde, mas também a segurança no trânsito, já que o condutor pode deixar de ouvir buzinas, freadas ou alertas sonoros.

De onde vem o barulho?
O ambiente de trabalho do rodoviário está cheio de fontes de ruído:
Motores diesel (principalmente traseiros)
Sistema de freio pneumático (aquele “chiado” ao parar)
Portas automáticas e janelas vibrando
Ar-condicionado ou ventiladores internos
Ruído urbano externo (trânsito, buzinas, obras)
Em muitos casos, os níveis de ruído dentro de um ônibus urbano podem ultrapassar 90 dB — patamar já considerado nocivo à audição segundo a legislação brasileira.
O que diz a lei?
De acordo com a Norma Regulamentadora NR-15, do Ministério do Trabalho:
O limite seguro de exposição contínua é de 85 dB por 8 horas diárias.
A cada 5 dB a mais, o tempo permitido diminui pela metade.
Acima de 115 dB, a exposição é inadmissível sem proteção.
Isso significa que o rodoviário está, na prática, exposto a um risco real e contínuo.
Efeitos além da audição
O barulho constante também impacta a saúde como um todo. Estudos mostram que ruído ocupacional pode causar:
Estresse crônico
Alterações no sono
Irritabilidade e ansiedade
Aumento da pressão arterial
Cansaço físico e mental
Esses efeitos combinados tornam o trabalho mais difícil e perigoso — especialmente em longas jornadas ou em horários de pico.
Como se proteger?
Exames obrigatórios:
Toda empresa deve realizar audiometria ocupacional nos seus funcionários — na admissão, periodicamente e na saída.
Também é necessário fazer o mapa de ruído dos ônibus e dos locais de trabalho.
Equipamentos de proteção:
Protetores auriculares são indicados em ambientes de muito ruído, mas devem ser avaliados com cuidado para não comprometer a percepção de sons do trânsito.
Medidas coletivas:
Renovação da frota com veículos mais silenciosos.
Isolamento acústico dos motores e uso de materiais antivibração.
Treinamento dos motoristas para reconhecer sinais de perda auditiva e cobrar seus direitos.
O que o rodoviário pode fazer?
Relate sintomas auditivos ao médico do trabalho.
Evite exposição extra a sons altos fora do trabalho (fone de ouvido, shows, etc).
Peça a realização de exames auditivos regulares.
Apps populares para medir decibéis
1. Sound Meter (Smart Tools) – Android
Mede ruído em tempo real (dB)
Interface simples e clara
Mostra média, mínimo e máximo
Grátis, com anúncios
Disponível na Play Store
2. Decibel X – Android e iOS
Um dos mais precisos entre os apps gratuitos
Mede e grava os níveis de som
Interface semelhante a um medidor profissional
Possui gráfico em tempo real e histórico