O que é a Seção 301?
A Seção 301 do Trade Act de 1974 é uma ferramenta legal que permite ao governo dos Estados Unidos, por meio do Representante Comercial (USTR), investigar e retaliar contra práticas comerciais consideradas injustas, discriminatórias ou prejudiciais ao comércio estadunidense — mesmo antes de recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) .
A investigação pode ser iniciada de forma unilateral e autoriza a imposição de tarifas extras e outras sanções comerciais como resposta a supostos desequilíbrios.
Por que os EUA abriram investigação contra o Brasil?
Em 15 de julho de 2025, o USTR abriu formalmente uma investigação com base na Seção 301 para apurar se políticas brasileiras impactam o comércio dos EUA em várias áreas, incluindo:
Comércio digital e sistemas de pagamento, como o Pix.
Tarifas preferenciais concedidas a outros países.
Proteção de propriedade intelectual, acesso ao mercado de etanol, combate à corrupção e ilegalidades relacionadas ao desmatamento .
A investigação descarta setores específicos com possíveis prejuízos à competitividade americana — agricultores, empresas tecnológicas, madeireiras, entre outros.
Tarifas como instrumento de barganha
Antes mesmo da investigação, em 9 de julho de 2025, o então presidente dos EUA anunciou tarifas pesadas de 50% sobre produtos brasileiros, justificando-as por alegadas práticas comerciais prejudiciais, além de questões políticas (como o julgamento do ex-presidente Bolsonaro).

Esse cenário indica que a Seção 301 está sendo usada como uma alavanca para pressionar negociações. Sob o arcabouço legal, o governo dos EUA busca impulsionar mudanças políticas ou econômicas no Brasil, demonstrando o caráter de instrumento de barganha da Seção 301 .
Como o Brasil responde?
Em resposta à investigação, o governo brasileiro apresentou, em 18 de agosto de 2025, um extenso documento de 91 páginas contestando todas as acusações. O Brasil argumenta que o Pix é administrado de maneira neutra, sem discriminar empresas estrangeiras, e ressalta que outros países, como os EUA (com o sistema FedNow), também possuem soluções semelhantes .
O Brasil contesta a legitimidade da investigação unilateral, defendendo que disputas dessa natureza deveriam tramitar dentro da OMC — e já solicitou consultas formais junto ao órgão .
Calendário do processo
15 de julho de 2025: Início oficial da investigação.
Até 18 de agosto de 2025 (11h59 EDT): prazo para envio de comentários públicos e pedidos para participar da audiência .
3 de setembro de 2025: realização da audiência pública em Washington, D.C., para ouvir depoimentos e argumentos .
Após as audiências, são permitidos comentários de réplica por parte das partes interessadas.
Por que isso importa?
Esse capítulo ilustra:
O poder do executivo dos EUA usar sanções comerciais como ferramenta política;
O potencial impacto econômico direto sobre exportadores brasileiros, que enfrentam aumento dos custos e barreiras tarifárias;
A importância do Brasil se posicionar legalmente, em nível internacional e diplomático, para buscar uma solução negociada e dentro das regras multilaterais.
Em suma, a investigação sob a Seção 301 funciona como uma via de pressão política e comercial, com possíveis repercussões profundas para a economia brasileira no curto e médio prazo.