Polarização transforma adversários em inimigos e coloca a sociedade em segundo plano; população comum paga a conta da intolerância.
A morte do ativista conservador Charlie Kirk, nos Estados Unidos, e as recentes tarifas impostas por Donald Trump ao Brasil expõem uma mesma ferida: o avanço do radicalismo político, que se sobrepõe à vida humana e ao bem-estar da população.
Nos EUA, Kirk foi assassinado a tiros durante um evento universitário em Utah, em episódio classificado pelas autoridades como um ato de violência política. O crime simboliza o ponto extremo da polarização, onde adversários deixam de ser vistos como cidadãos com ideias diferentes e passam a ser tratados como inimigos a serem eliminados.
Já no Brasil, os efeitos do radicalismo se manifestam em outra dimensão. A decisão de Trump de sobretaxar em 50% os produtos brasileiros exportados para os EUA, além de sancionar autoridades do Judiciário, atinge diretamente agricultores, trabalhadores e pequenos empresários que nada têm a ver com disputas ideológicas entre líderes políticos. A conta do conflito recai, mais uma vez, sobre os ombros da população comum.
Fissuras devastadoras
Esses dois episódios, separados por fronteiras mas conectados pela lógica da polarização, mostram como a radicalização política aprofunda fissuras devastadoras nas sociedades. De um lado, a violência física que interrompe vidas; de outro, a violência econômica que corrói oportunidades e empobrece famílias.
Em ambos os casos, o elemento humano parece relegado a segundo plano. A morte de um homem nos Estados Unidos ou o impacto de tarifas sobre milhões de brasileiros são tratados como peças em um tabuleiro político, onde o que importa é marcar pontos contra o adversário.
O caminho sem fim
A pergunta que fica é: até onde vamos? Se a política, cujo propósito deveria ser a construção de soluções coletivas, se converte em guerra permanente, o custo não será apenas de vidas perdidas ou economias fragilizadas, mas também da erosão de valores fundamentais como empatia, diálogo e democracia.
A radicalização, seja em Washington ou em Brasília, já deixou claro quem paga a conta: o cidadão comum, que não empunha armas, não participa de negociações diplomáticas, mas sente no bolso e no cotidiano o peso de decisões tomadas em nome de uma disputa sem fim.
Onde vamos parar? É a reflexão inevitável em um cenário em que o radicalismo cresce e o ser humano, paradoxalmente, desaparece do centro da política.