Em entrevista, deputado defende sanções econômicas americanas como ferramenta de pressão contra Moraes e governo Lula. Especialistas veem risco à soberania e danos profundos à economia nacional.
Por Redação Up Notícias
Salvador | 24 de julho de 2025
No que já é considerado um dos momentos mais polêmicos da crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou, durante entrevista ao podcast Inteligência Ltda, que apoia integralmente as tarifas econômicas impostas por Donald Trump ao Brasil, mesmo reconhecendo os impactos negativos diretos e indiretos à economia nacional. Segundo ele, “vale qualquer sacrifício” para evitar a prisão de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Trump fez o que tinha que ser feito. A tarifa é uma resposta forte contra os abusos do Alexandre de Moraes. O Brasil só vai negociar quando respeitar os pontos da carta que recebemos”, declarou Eduardo.
A “carta” mencionada é o comunicado diplomático enviado pela equipe de Trump exigindo o fim das medidas judiciais contra Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe. Em resposta à recusa do governo Lula, o Departamento de Comércio dos EUA anunciou tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, atingindo setores como o agronegócio, siderurgia, aeronáutica e tecnologia.
Uma conta salgada para o Brasil
As medidas devem entrar em vigor a partir de 1º de agosto de 2025 e devem custar ao Brasil cerca de R$ 36 bilhões por ano em perdas diretas de exportações, segundo estimativas da CNI. Economistas apontam também risco de inflação de até 1,3 ponto percentual adicional e freio no crescimento do PIB.
“É a primeira vez que um parlamentar brasileiro defende uma sanção estrangeira contra seu próprio país como estratégia política pessoal”, avaliou o economista Raul Varela, do Observatório da Indústria Brasileira.
Empresários do agronegócio — base de apoio tradicional do bolsonarismo — reagiram com perplexidade. Em nota, a Frente Parlamentar Agropecuária classificou a fala como “irresponsável” e alertou para “efeitos colaterais que podem destruir mercados internacionais conquistados ao longo de décadas”.
A política como palco externo
A declaração também evidencia uma nova tática da família Bolsonaro: internacionalizar o embate político com o Supremo Tribunal Federal, transferindo o conflito institucional para o campo geopolítico. O apoio de Trump e do Partido Republicano se soma a pressões diplomáticas e sanções econômicas, numa tentativa clara de desestabilizar o governo Lula e pressionar por anistia ou reversão das medidas judiciais contra o ex-presidente.
“A guerra que começou no Judiciário agora chegou ao comércio exterior. A pergunta que fica é: até onde vão os bolsonaristas para blindar o ex-presidente?”, analisa a cientista política Heloísa Dantas.
Soberania nacional em xeque
A postura de Eduardo Bolsonaro foi duramente criticada por lideranças do governo e por parlamentares de centro e esquerda. O presidente Lula, em discurso no Piauí, classificou a atitude como “submissão vergonhosa a uma potência estrangeira” e afirmou que “ninguém está acima das instituições brasileiras, nem com apoio internacional”.
Já o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, anunciou que o Brasil recorrerá à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as tarifas americanas e poderá retaliar com restrições a produtos dos EUA.
Análise: o custo da lealdade
O episódio marca um ponto de inflexão na crise política brasileira. Eduardo Bolsonaro admitiu que os interesses pessoais e familiares vêm antes da estabilidade econômica nacional. Para ele, a liberdade de Jair Bolsonaro justifica qualquer preço — inclusive empurrar o Brasil para uma recessão técnica ou provocar um conflito comercial.
Em nome de um projeto político, o país agora paga — literalmente — a conta de uma guerra pessoal travada em escala global.
Reflexão final
Enquanto Jair Bolsonaro chora em cultos, sua tropa política trabalha nos bastidores para fazer a pressão externa surtir efeito. Mas ao envolver uma potência estrangeira contra o próprio país, Eduardo Bolsonaro cruzou uma linha que muitos analistas consideram perigosa: a da soberania nacional usada como moeda de troca familiar.
A democracia resiste, mas a que custo?